Nasceu como morreu

Plangente

Nasceu assim

Nasceu chorando

Não esperou a palmada

Seu primeiro sorriso foi um golpe

Foi irônico

Machucou quem por perto estava

Magoou quem estava longe

Plangente

Cresceu assim

Na escola brincava de não sorrir

Não chamava a professora de tia

Chamava de bruxa ou vó.

No pique bicúda, bicudava sem dó

E ria, quando alguém de dor gemia

Assim foi apelidado de risonho

Plangente

Amadureceu assim

Nas festinhas ficava com as meninas

E as tratava como princesas

Para usar como tapete

Terminava só para vê-las chorar

E ria, mantendo sua fama escolar.

Plangente

Envelheceu assim

Exalava cigarro e tristeza

Passava o natal sozinho

Era somente ele e seu ninho

No caixão não estava sorrindo

Porque ria ao ver alguém chorar

Mas só tinha o funerário por lá

Plangente

Morreu assim...

(((((Poema feito num surto plangente)))))

Enzo Pinho
Enviado por Enzo Pinho em 26/07/2006
Reeditado em 27/07/2006
Código do texto: T202331