Direitos interrompidos
Duas mulheres jovens, casadas, caminhavam rumo ao bosque para apanhar lenha. E, não fugindo à regra, tagarelavam.
- Estou com o saco (embora eu não tenha) cheio dessa rotina! Esbravejou uma.
- Que rotina, mulher de Deus? Zomba a outra.
- Ora rotina! Rotina é o que fazemos todos os dias: lavamos, passamos, cuidamos dos filhos, apanhamos lenha e à noite temos que enfrentar nossos homens malcheirosos, bêbados... Explica a primeira.
- Concordo com você. – Não tinha pensado em tudo isso com tanta ligeireza. Mas o último é o mais doído. Servimos, na verdade, como depósito de esperma daqueles nojentos.
Continuaram a caminhada, apanharam a lenha e, na volta, mesmo com todo o peso, continuaram a tagarelice.
- Precisamos revolucionar; lutar contra tudo isso. Afinal, somos seres humanos e não vivem dizendo por aí que “somos iguais perante a lei”? Propõe a primeira.
- Mas como? Não estou entendo aonde você quer chegar.
- Deixa comigo que traçarei um plano. Mas preciso da sua ajuda: duas cabeças pensam melhor.
Nunca mais voltaram ao bosque para apanhar lenha e sequer foram vistas. Os maridos foram condenados, presos e as crianças estão sob a custódia do Estado.