A verdade do ar

Era noite exata, porém eu como habitual, não tinha sono. Alcei-me e vesti o robe transparente de seda e me dirigi à janela. A ventania acariciou-me a face, embora leve e vago, arrepiou-me a pele e molhou-me os olhos. Toda aquela representação... o escuro só tingido pela iluminação da lua, o silêncio, o cheiro natural da via pública, do ar, da fictícia independência. Ar. Muito bom. Fechei os olhos, não necessitava ver, apenas deixar-me atraiçoar a toda aquela melancolia que me errava a alma. Fez-me ter desejo de ser feliz, de ser melhor, para mim. Descruzei os braços, que até neste instante davam apoio ao peso do meu corpo sobre o peitoril da janela. Contemplei as minhas mãos, muito novas, muito fatigadas. Semelhante ao restante do meu corpo aparentemente salutar e sólido. Mas ao olhar profundamente, um terrível depauperamento continuava a existir. Fechei a janela, e permiti-me escorrer pelo chão, até permanecer de pernas cruzadas, assentada. E enquanto uma lágrima escorreu, peguei no sono.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 27/12/2009
Código do texto: T1998687
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