DIÁLOGO DE PÁSSAROS
Naquele sábado de muito sol, os pássaros deixaram a floresta e vieram visitar a cidade. Pousaram nos fios do primeiro semáforo da avenida principal e ficaram espiando o tráfego.
- Como os homens são apressados! – observou o primeiro pássaro.
-Imagina se pudessem voar! – comentou um outro.
- Fico aqui pensando: e no dia em que não houver mais florestas, hem? – filosofou um deles.
-Teremos que ir ao supermercado para fazer compras. – concluiu o primeiro pássaro.
-E como preservaremos a nossa memória?
-Tiraremos fotografia e faremos filme e televisão... É assim que o homem faz.
-Mas pássaro é pássaro e homem é homem – afirmou um dos pássaros.
-Será que o pássaro de hoje será o homem de amanhã? – indagou um outro.
-Deus nos livre de tal sina! Preferia o contrário: que o homem de hoje possa ser o pássaro de amanhã...
-Aí não haveria mais gaiolas e não seríamos mais aprisionados... – ponderou um dos pássaros.
-E também os homens aprenderiam a voar de verdade... – completou um outro.
-Seriam mais breves, suaves e leves...
-Aprenderiam a cantar os hinos da floresta...
-Será que o mundo seria mesmo melhor? – indagou o primeiro pássaro.
E com todas essas dúvidas em suas cabecinhas de plumas furta-cor, alçaram vôo na direção da linha do horizonte, desenhando arabescos no céu...