Fim da conspiração
Seus olhos pareciam de águia, não deixavam nada escapar.
Enxergava a discussão na sala ao lado.
Sua mente, afiada, via além.
Capaz de vislumbrar o coração daqueles presentes.
Seus ouvidos aguçados captavam os murmúrios.
"Não está dando mais!"
"O que vamos fazer? Não podemos esperar..."
"vamos mandá-lo embora!"
"não adiantaria..."
"vamos acabar logo com isso?"
"vamos matá-lo!"
O silêncio.
O suspiro.
"quem vai?"
Sortearam entre si. Um grunido baixo do eleito por unanimidade.
A arma escolhida?
Um comprimido. Um veneno moldado na mesma forma que o remédio diário do velho.
O carrasco abriu a porta do quarto, tentando aparentar normalidade.
"Olá, está acordado? Aqui está o seu remédi-"
O carrasco deixou a arma cair. A surpresa derrubou sua máscara.
O velho, do alto, observava o homem correr em direção ao seu corpo sem vida.
Viu seu carrasco chorar. Arrependido.
"Arrependido de quê, se não foi você quem me matou?", pensou.
"Ainda bem que minha doença me levou embora antes. Não quero que o peso da minha morte caia sobre você.
Afinal, você é meu filho, mesmo que pra vocês eu não passasse de um peso morto, do qual não viam a hora de se livrarem."
Assim, o velhor partiu. Tristemente, sem deixar heranças nem saudades; apenas o amargo do arrependimento para o caçula, e injusto alívio aos filhos de coração de pedra.