RESQUÍCIO DE UMA NOITE DE VERÃO

Reticentes retinas cansadas têm lapsos de visão e entre uma cena e outra, distraem-se com a escuridão como os músculos dos lábios que relaxam entre o intervalo provocado pelo beijo furtado seguido ao tapa instintivo num misto de crime e castigo, imersos na noite febril de um sábado de verão sob um pé de manacá e um fiapo de lua cheia que alinhavaram os sonhos imprescindíveis e os pesadelos postados por mãos de carrasco e selados sob a língua maldita de um destino inescrupulosamente perverso.

Foi o que restou em mim daquela noite; além do ardor na altura do baço, do odor de pólvora captado no ar e a visão piscante entre um vulto e um rosto cujas lágrimas ainda pude sentir gotejando macias sobre minha face, levei incrustado na alma uma dor canalha de um mal entendido que não pode ser desfeito.