Deus Caritas Est
Estava ele lá embaixo, aos pés da escadaria do metrô. Muito frio. Deste lado dos Andes, o ar gelado do Pacífico é carregado para o continente. Não venta mas congela o rosto dos transeuntes.
Não me pediu nada. Passei direto... parei me perguntando por que não ajudar. Resolvi voltar e como um ilustre desconhecido dar-lhe um valor, que não era muito, mas que não era também comum... Por que? Também não o sei. Algo diferente, isolado, sem identidade, despretencioso. Afinal, embora nao sejam muitas minhas posses, certamente nao faria falta dividir. Para ele, faría diferença! Apoiou-se nas muletas, estendeu as mãos e recebeu meu óbolo, olhou-me nos olhos. Somente olhei-o pedindo que aceitasse, acenando com a cabeça. Nunca mais o vi! Certeza de ter deixado na memória de um irmão mais necessitado, a existência de bondade no coração de um outro ser, que indulgente, lhe suplicava bençãos... e que recebe-as a cada dia, bastando ele se lembrar de vez em quando, onde quer que esteja... quem sabe nos céus, podia até mesmo ser Ele...« per pietatis viscera in se infirmitatem cæterorum transferat ».