Gin Tónico
Pedi um Gin Tónico enquanto lia aquele conto, parecia não ter fim. Chegava ao fim duma frase e apetecia-me começar a lê-la de novo, não havia pressa naquelas frases. Elas mesmo diziam terem sido escritas sem pressa, eram caçadoras a tentarem passar por presas: omnívora presença da palavra, captando a atenção.
Chegado ao fim dum parágrafo apetecia-me ver como é que ele tinha surgido, o porquê do salto? Porquê parar e não ter continuado, de ponto final em ponto final? Depois era esta característica dum policial sem mortos, um cadáver esquisito surrealista: as perguntas sem nada perguntarem?... insidiosas.
Acabar, saber como acabava o conto, quando o mesmo remetia para o seu princípio? A folha em branco como um areal deserto muito branco, o sossego, um só cego: o vazio iluminado pelo nada, o mar vazio... Sentei-me à mesa com o livro do Mário Henrique Leiria debaixo do braço, poisei-o sobre a mesa, tirei de dentro dele uma folha em branco, comecei o conto: vou acabá-lo com o último golo de Gin Tónico!