O SONHO DE BAILAR

"Foi nesta madrugada de 1 de setembro que a bailarina morreu" reportou o jornal da cidadezinha.

Ainda caindo no horizonte laranja alumínio,a noite ganhava espaço com suas estrelas dançantes cobrindo o sol.Era a noite do espetáculo:Lívia dançaria para todos o balé de toda uma vida de dedicação diária. Estava tudo desabrochando aos poucos diante dos olhos pequenos da menina que brincava de se equilibrar em seus pés e neles, construir sonhos. Com a frangância de sândalo,perfumou os pulsos,as sapatilhas e o vestido de bailar.Tocou as flores do camarim.Estava completamente feliz:na platéia estavam seus pais,seus tios e um menino que dela arrancava suspiros leves e sem malícias,mas que ainda não tinham se tocado,apenas se olharam muito;estava bela,com toda a delicadeza e serenidade que uma moça de dezesseis anos de idade pode exalar,e ainda mais sendo bailarina.

Era a hora,desfilou como uma princesa sobre o palco,e quando a primeira nota se deu,um mal súbito sabotou seus sonhos,e da boca escorria um sangue tão vermelho que parecia vida jorrando e dilacerando a própria vida.

"Não puderam identificar a causa da morte".

Em algum lugar,uma crosta de prata-dourada envolveu de desdém uma bailarina que jamais se mostrou ao público,mas viveu intensamente como uma bailarina de sonhos.