OBJETOS ESTRANHOS

Dois amigos inseparáveis catavam vidros reclicáveis para vender. Certo dia, um deles encontrou um vidrinho engraçado, diferente, bojudo, cheio de pequenos objetos esbranquiçados. Parecida um vidro de perfume. Diferente mesmo. O outro também se interessou pelo vidrinho e o pediu para si.

Muitos anos depois, agora já sozinho porque o amigo desaparecera sem mais nem menos - sem dar explicações - ele resolveu catar papéis também. A comercialização de vidros já não dava para cobrir o orçamento. Eram necessárias outras alternativas.

Bem, num dia, quando ele ergueu um monte de jornais cuidadosamente amarrados (as pessoas tinham o cuidado de deixar os jornais empilhados para facilitar o trabalho dos catadores) viu a foto de um homem elegante e bem vestido, exibindo um sorriso amável, de dentes brancos e impecáveis, com o queixo apoiado na mão, onde exibia um anel de muitos quilates. Abaixo da foto, seguia a manchete:

“Empresário de jóias em tour pela Europa com a família... “

Ele não continuou a leitura porque a lembrança do colega pedindo o vidrinho bojudo se infiltrou em sua mente. E parou mesmo para refletir que o agora “empresário de jóias” era aquele seu amigo até o momento em que se interessou por um vidrinho bojudo, cheio de pequenos objetos esbranquiçados...