Dr. Perstina

Um calor insuportável! Mais dias, menos dias, instalaria um aparelho de ar condicionado em sua sala. Limpava a testa molhada de suor. Tinha que limpar os óculos que às vezes embaçava de calor. Seu jaleco branco estava ensopado. Sua blusa branca exibia, na altura das axilas, um amarelo úmido. Acúmulo de suor.

Quando lhe sobrasse uma verba, instalaria um ar condicionado, ou, ao menos um ventilador de teto. Calor!

Entrava em seu consultório, um garotinho, de mais ou menos seis anos. Levado. Entrava com cara de enfezado na sala, sentindo o bafo quente daquele lugar apertado, relutava:

- Mamãe, não quero! Quero ir embora, eu juro que nunca mais como balinha mamãe.

- Filho. Calma! Este é o Dr. Perstina, amigo do papai.

- Não! Mãe, eu juro o que você quiser. Ele fede mãe. – Apavorado.

Irritado o brutalhudo senhor levanta de sua cadeira. Olha o garoto com sua cara redonda, a barba por fazer, e sentencia, com uma voz rouca e pouco amigável:

- Na cadeira.

O garoto intimidado, num sobressalto se joga naquela cadeira envolta por estranhos aparelhos. Teme por sua própria vida. Perstina cochicha alguma coisa ao ouvido da mãe. Cobraria um valor irrisório pela consulta. A mãe lhe sorri agradecida.

- Calma meu bem. O amigo do papai vai cuidar dos seus dentes.

Dentes!

Os olhos do garoto se esbugalham. Afinal ninguém tinha falado nada sobre dentes. Temia por sua vida, e, a morte poderia suportar, como um herói. Mas dentista não. Tortura desnecessária, pois nem era vaidoso. Adorava doces, detestava escovar os dentes, agora: o dentista.

Perstina coloca as luvas, com um sorriso sádico de canto de boca. A mãe tenta relaxar o garoto lhe passando a mão entre os cabelos, num suave cafuné. Desnecessário, já que naquele momento nada poderia acalmá-lo.

Desespero.

O rosto suado do dentista lhe aparece a vista. Abre a boca. Menta, tuti-fruti ou abacaxi? Eram os sabores da anestesia utópica. Decidiu-se por tuti-fruti. Logo depois uma seringa imensa lhe invade a boca e esta adormece.

O doutor pega uma máquina pontiaguda e tzzzzzzzzzzzzzz. Que barulho infernal! Estrelas começam a girar em torno da sua cabeça. Sua boca está grande, enorme, assim acredita o menino. Algumas horas depois e estava livre.

Não tinha sido tão ruim afinal.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 12/09/2009
Código do texto: T1805897
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