O peso de um olhar
Viviana acomodou-se no banco do carro, pronta para esperar pacientemente pelo marido, que fora buscar um filme na locadora. Deu uma olhada na agenda, que sempre trazia na bolsa. Depois, com o passar dos minutos, ficou observando as pessoas que saíam do supermercado. Saíam, principalmente, pois já estava perto da hora do fechamento; algumas poucas ainda entravam, apressadas. O movimento de carros distraía o seu momento ocioso. De repente, descobriu o menino a um canto da calçada. Desviou o olhar, mas terminou voltando a pousá-lo no guri. Poderia fazer alguma coisa? Estava cheirando cola, encolhido naquele canto. A visão deprimiu-a. Num movimento automático, abriu a porta, pensando em ir até ele. Nesse momento, o menino fitou-a: o olhar denunciava extrema desconfiança. Diante daquele olhar, ela vacilou. Foi com alívio que viu o marido chegar.