As barbas de molho
Não percebeu o sol se por. O ambiente estava tenso. Todos calados. Ainda assim, contrariando a maioria, Anselmo tentou por fim àquele ambiente sepulcral:
- E ai pessoal? Grita Anselmo com voz desconsertada.
Todos entreolharam-se, sem entender o feito. Um grito desnecessário e inoportuno. Ou será que após as visitas ao médico, Anselmo tinha perdido o juízo? – Sabe-se lá a ideia de um maluco...
O crepúsculo já se avizinhava. As cervejas espalhadas pelas mesas se escasseavam. Alguns se levantavam, pagavam suas contas e saiam, despedindo-se apenas com um olhar astuto. Tudo isso estava inquietando Anselmo, que lambia os lábios, levantando as sobrancelhas. Já levava o copo à boca com menor frequencia, preferindo observar toda aquela cena a princípio, inexplicável.
Anselmo, aproveitando-se daquele silêncio, fez uma retrospectiva de sua vida. Lembrou de sua época de jovem; as aventuras amorosas, as quais ainda mantinham ardentemente vivas. Continuava um bom amante, aventureiro. A diferença de idade não o incomodava. Maura, 26 anos mais nova, casada com um homem sem expressão, raquítico, olhos de defunto; um desgraçado.
Todos os adjetivos atribuídos ao marido contribuíram para que Maura tivesse olhos para Anselmo. Sentia-se encantada com a desenvoltura com que Anselmo lidava com os versos, além de proporcionar-lhe gozos reiterados. Não sabia se o amava, mas gostava de seus gracejos.
Mas o que havia, afinal, naquele bar? Os que permaneceram, emudeceram-se. Estava um saco o recinto. Havia alguma coisa pairada no ar, mas ninguém falava apenas o silêncio e os olhares tentavam se comunicar.
Anselmo, mais uma vez intentou quebrar aquele silêncio e dirigiu-se ao atendente:
- O que está havendo, Maurício? Parece que estamos em um velório e não em um bar?
- Não sei ao certo, Anselmo! Estamos, na verdade, apreensivos... – Coisas podem acontecer... Fomos avisados... – E você sabe perfeitamente...
- Mas...
Anselmo calou-se e voltou à sua mesa. Sentou e levou o copo à boca. Olha para a porta e vê Maura, sorridente, linda, entrando. Em seguida, o marido de Maura, esquelético, maltrapilho, entra enfurecido e, sacando de uma arma, atira à queima-roupa nas costas de Maura, atingindo, posteriormente, Anselmo que se curvou agonizante...
- Estávamos apreensivos com isso! Falou o atendente, enquanto os outros, que restaram, tentavam socorrer Anselmo... - Você contribuiu...