DESEJO EMUDECIDO
Quem é ela? Queria vestir-me de ousadia e enfrentá-la. Encará-la de frente e descobrir qual o mistério que me atiça. Serão aqueles olhos? São pura astúcia. Desprendem poesia. Ou melhor, um conto. Erótico.
Queria desvendá-la antes que ela me despisse. Mas antes que eu seja capaz de falar qualquer coisa, ela me silencia, me toma e me arranca a roupa com o olhar. Me toca com os olhos. Eu engulo o gemido, mas não consigo evitar o arrepio. Disfarço. Sorrio, nervosamente, e me afasto. Fujo com os olhos. Com os passos. Chego ao fim do corredor, mas ainda não consigo me livrar da vontade. Do desejo. Bandida! Rouba o meu tino, a minha paz. Me convida, me atrai, me possui, sem que eu possa escolher. Me transforma em desespero. Em fogo. Em calor. Sou apetite à flor da pele. Sou ânsia de toque. Gemido mudo. Sede.
Ela me tortura. Me testa pra ver quanto tempo aguento até que, envolvida em tanta aflição, sem ter mais para onde ou como fugir, eu me renda. Implore que me beije e que beba o mel que ela faz sair de mim.
E são assim meus dias: de longe, evitando o tormento, contemplo aquele olhar de leoa, de mulher que sabe o quer. E o que quer de mim, afinal? Me delicio com aquele andar felino, que me paralisa, me seduz, me entontece. Não consigo, afinal, me desvencilhar do suplício, e, ao longe, encontro-me entorpecida e a minha boca se enche d'água, ao mesmo tempo que morro de sede.
Essa é ela: minha ardente volúpia. Essa sou eu: sua refém.