Recomeçar


De frente para o mar, sente o vento bater-lhe forte no rosto. Não sabe se o frio é a maresia ou são as lágrimas que escorrem livres.

Sem ninguém vendo-a, é mais fácil deixar a dor fluir.

Tem vontade de gritar. Mas falta-lhe coragem.

Quisera tanto ficar sozinha! Por que não era feliz?

Estivera presa tantos anos! Agora poderia  fazer o que quisesse, como quisesse, quando quisesse. Por que, então, esta inércia? Seria o costume de ter um carcereiro, conduzindo-a como uma marionete?

Precisa retomar a sua vida. Mas como? Não consegue mexer-se. É uma estátua.

De repente, uma mãozinha pega a sua, e ela ouve:

-Vozinha, vem pa drento, tá fio foia.

E ela entende por onde e por que haverá de recomeçar.



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