MEMÓRIAS 16 "PECADO" > * <

Quem nunca roubou vai me condenar vai virar a cara para mim,

torcer o nariz e julgar-me a pior das piores.

Mesmo assim confesso que já roubei.

Quando era pequena, no auge dos meus nove anos.

Eu freqüentava a casa de uma prima ajudava-a com as crianças e na

Arrumação da casa. Morava com eles um rapaz amigo da família,estava

Trabalhando na cidade e sua casa era no interior.

Esse rapaz trabalhava em uma papelaria. Eu ajudava minha prima com as roupas, ela lavava e passava eu guardava para ela nos devidos lugares.

Lembro-me que eram muitas roupas, pois eram em sete pessoas na casa.

Eu ficava horas e horas guardando-as.

No quarto do rapaz eu abria e fechava as gavetas guardando tudo.

Mas a curiosidade gritava dentro de mim, eu mexia nas coisas dele além de só arrumar... E um dia notei que tinha no fundo de uma das gavetas, uma caixa de camisa enorme, estava fechada com elástico.

Eu fiquei uns dia pensando o que teria lá dentro. depois de vários dias resolvi abri-la. Fiquei de boca aberta, arregalei os olhos, sorri, tapei a boca com as mãos. Meu coração até acelerou. Eu disse para mim mesma;

_ Que beleza! Era tudo que eu queria ter.

Ele tinha lá uma verdadeira coleção de cartões postais. As imagens e paisagens mais fascinantes que eu já tinha visto. Acho que o vírus

de escritora já estava instalado em mim, escritos me fascinavam...

Os cartões eram muitos, cada um mais lindo que o outro.

Fiquei horas e horas vendo-os apaixonadamente.

Guardei-os direitinho e não disse para ninguém. Todos os dias olhava-os queria pelo menos um mas não tive coragem de pedir se não, o rapaz descobriria que eu mexi nas coisas dele.

Até que um dia não resisti e peguei um, um dos mais lindos que achei.

Lindo, lindo, mensagem linda tocante. Passou o sufoco e a euforia.

O medo de que ele ou alguém descobrisse.

Fui fazendo isso várias vezes.

Já havia se passado meses, eu estava com muitos cartões. Eles ficavam bem escondidinhos ninguém podiam ver como eu ia explicar?... Se meus pais soubessem nem sei o que seria de mim... E o rapaz então saber que roubava-o!

Não, nunca!

Bateu-me o arrependimento, eu estava roubando, tirando algo de alguém. Pegando uma coisa para mim que não me pertencia.

Aquilo já estava tirando-me o sono. Então com pesar resolvi devolver.

Fui colocando de um por um para que o rapaz não percebesse. Até que ficou o ultimo que na verdade, era o primeiro que peguei. O que eu mais gostei. Foto linda, frase linda, queria ficar com ele mas não pude não era meu.

Criei coragem e devolvi. Senti um vazio profundo, sem “meus” cartões. Mas estava aliviada. Já podia olhar nos olhos do rapaz pois, desde que comecei a roubá-lo não encarava-o.

Os meses se passaram e entre uma conversa e outra, do rapaz com amigos, descobri que ele roubava os cartões. Ele não ganhava nem comprava como eu imaginava... Ele roubava da papelaria.

Fiquei a principio arrependida por ter devolvido pois eu gostava tanto deles.

Se pelo menos eu tivesse aquele o mais lindo de todos.

Era o que tinha uma imagem de uma praia deserta onde se mesclava o tom das águas com o azul do céu, e a mensagem era:

_ “ONDE HÁ BARULHO DEUS SILÊNCIA, ONDE HÁ SILÊNCIO OUVE-SE A VOZ DE DEUS”.

_ Talvez por causa da minha crença e cumplicidade com Deus, que não continuei a roubar.

Lee Nunes
Enviado por Lee Nunes em 01/08/2009
Reeditado em 12/05/2010
Código do texto: T1731217
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