A espera de uma ligaçao

E então bateu a porta do carro. Amanha eu te ligo -escutei- fui dormir com o celular na mão, afinal já passavam das onze e amanha poderia ser daqui a pouco. Acordei assustada, meu celular, ainda em minha mão, não me mostrava nenhuma ligação perdida. Pensei que era só o começo do dia e daí tirei forças para esperar mais tempo. Fiquei mais alguns minutos intactos na cama olhando para o meu celular, a minha vontade quase o fez chamar. Levantei da minha cama, abri a porta do quarto e quando cheguei ao corredor voltei em disparada, desesperada, desconsolada, como se tivesse deixado para trás um filho. Cheguei a meu quarto e lá estava o celular quietinho sem se mexer, tomei-o em minhas mãos e voltei para o corredor aliviada por tê-lo recuperado. Entrei na cozinha e ameacei comer alguma coisa, mas para mim a ansiedade é a melhor das dietas. Procurei algo pra fazer. Remexi os velhos livros, reli aqueles velhos poemas escritos por mim no auge de uma adolescência conturbada, relembrei as fotos, vivi novamente momentos, cheguei a estar com você naquele lugar onde nos conhecemos, fiquei por lá algumas horas, ate que a campainha me trouxe de volta. Uma mão no celular a outra na porta, quem ousa me tirar assim daquela noite maravilhosa? Um copo de açucar era tudo que meu vizinho queria. Coloquei os olhos no relógio (do celular é claro), dezesseis e vinte e dois, dezesseis e vinte e três. Andando pela casa eu lia Drumonnd, uma mão no livro a outra no celular. Sentia-me como José, sem festa, sem luz, sem cavalo que fuja a galope. E tudo acabou e tudo sumiu. Sumiram as letras, sumiram os versos. Vi você andando na rua, eu gritava e você não ouvia, te toquei e você não percebeu, olhou para trás e não me viu. Procurei o celular e não achei. Um latido lá fora me fez despertar (graças a Deus). Deitada na cama, Drumonnd de um lado, celular do outro. Assustei com um barulho que vinha do meu telefone, cheguei perto cuidadosamente, os olhos entreabertos e os dedos cruzados. Bateria fraca. Liguei-o na tomada e fiquei do seu lado imóvel, como uma mãe no leito de um filho. Senti vontade sair, andar um pouco, mas eu estava presa e ficaria assim pelo tempo em que o único meio de falar com você, naquele momento, estivesse também preso a uma tomada. Quando o relógio marcou dez horas, puxei aquele fio. Celular numa mão, esperança na outra. Ameacei comer novamente e novamente não comi. Onze horas se aproximavam e então, apenas uma hora separariam um dia do outro. A esperança foi escapando entre os dedos, celular em uma mão, e na outra, as lagrimas que acabavam de cair do meu rosto. Deitei-me as onze e cinqüenta e nove, esperei por mais um minuto e dormi. Acordei com sua ligação às nove horas do mesmo dia. Do mesmo dia?

Luh Medina
Enviado por Luh Medina em 28/07/2009
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