LAMBA-ME A NAVALHA
As fendas transportam o líquido.
À cor, se fundem a sujeira e as formigas.
O rio de chacina despenca nos lábios do morto. O gosto de si mesmo, como espécie, sufoca e completa o fim.
A moça limpa os óculos.
Seus olhos são bonitos. À cor dos olhos, a outra é suja, ofende, macula o belo. No choro dela não pode lavar os seus. Desenha seus traços.
Quando ela pediu que por amor lambesse a navalha, não acreditou que faria. Fez.
Pede um beijo. Em razão do contágio ela não beija, nem escuta o pedido, pois ele não diz.
Sem língua, a boca dela é um chuchu e, sem lamber, tem mesmo esse gosto.