Só Pego Peixão


Ariosvaldo era daqueles sujeitos que adoram contar vantagens sobre suas conquistas amorosas. Eram histórias mirabolantes, sobre mulheres lindas que sempre caiam na sua lábia e as técnicas de sedução que ele usava para apanhá-las. Em tempos de internet e fotografia digital, aderiu aos blogs: criou o Só Pego Peixão (sopegopeixao.blogspot.com). Quase toda semana, tinha uma garota nova, com foto e um textinho com detalhes sobre ela e sobre o que ele fez para seduzi-la. Nas fotos, onde as jovens estavam sempre nuas ou quase, ele escondia-lhes o rosto com um coraçãozinho vermelho. Dentro dele, um número que representava a pontuação pelo desempenho da garota.
O blog era um sucesso no meio da machaiada. Havia até um bolão de apostas para tentar adivinhar as identidades das moças.
Os amigos mais próximos preocupavam-se com essa história de dar notas. Ao que ele sempre respondia:
- Ah! As que tiram mais de nove, gostam, as que tiram um pouquinho menos querem repetir para tentar melhorar o desempenho.
- E as outras, as que você avalia mal... Não ficam fulas da vida com você?
Ele dava de ombros:
- Fala sério! O que eu quero com alguma que tirou menos que sete?
Alguns duvidavam dessas histórias. O cara nem era assim tão atraente, não tinha muita grana, nenhum carrão e ainda morava com os pais. Chegaram a usar um software de rastreamento de imagens exclusivo da Polícia Federal para o combate à pedofilia. Pegaram várias das fotos do blog e pesquisaram por toda a Internet, achando que ele pudesse estar usando fotos pinçadas da grande rede. Mas, não acharam nada.
Um dia, ele estava no trabalho quando entrou na sala uma morena lindíssima à sua procura. Vários olhares vigilantes postaram-se nele, discretamente, sobre as baias.
Ela lhe pediu para acessar o blog. Escolheu uma das garotas e perguntou a ele quem era ela. Ele respondeu que preservava a identidade de suas garotas e não poderia dar a informação. Ela então, respondeu:
- É a minha mãe. - e, abrindo uma velhíssima revista masculina, mostrou uma das fotos. Era a mesma do site. – Ela e meu pai eram noivos na época e ela só fez essas fotos pela grana, para eles poderem começar a vida. Até hoje, ela se arrepende. Peço-lhe que a retire, por favor.
E, virando-se sobre os calcanhares, saiu, séria e firme, do mesmo jeito que entrou.
Os amigos logo entenderam. Sabendo que as imagens na net seriam rastreáveis, ele escaneava fotos de revistas masculinas antigas, de vinte anos ou mais, da velha coleção do pai dele.
Não há como negar: eram realmente uns peixões... numa época em que ele usava fraldas e não redes de pesca.


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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Conversa de Pescador
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://www.encantodasletras.50webs.com/pescador.htm

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