O show tem que continuar

Convido-me a mim mesma para comparecer ao mais depressivo de todos os espetáculos.

Alojo-me no mais cômodo dos lugares. Ofereço-me o tratamento particular.

Afinal eu sou a espectadora mais importante da produção que hoje se exibe.

Enquanto me aconchego na enorme poltrona onde me assento e que vai a cada segundo me fazendo menor, contemplo-me no palco… em diminutas cenas da minha vida!

Só agora reparo que a sala está cheia de espectadores que zombam a cada movimento bronco que faço no palco. Apenas eu choro!

A cada cena que passa soltam-se risadas que ressoam na imensidão de paredes que constituem a grande sala de espetáculos onde hoje se mostra a minha vida no mais insignificante e reles dos palcos!

Grito eu, atriz desta cena: - que faço eu neste lugar?

Grito eu, atriz desta cena: - porque gracejam?

Caio sem animo no chão, cansada da máscara sorridente que me forcei a utilizar cotidianamente!

Vou para tirá-la… Paro! Eu não posso, eu não posso exibir aos meus espectadores o meu verdadeiro rosto! Face inchada de tantas lágrimas, de tantos desgostos, de tanta ausência de tudo.

Arrasto-me pelo chão de um palco que um dia já foi reluzente, e berro no interior do meu intelecto: “O SHOW TEM QUE CONTINUAR”; “O SHOW TEM QUE CONTINUAR”.

Levanto-me novamente apenas para levar o espetáculo até o final. Olho para os meus espectadores, sedentos de gargalhadas causadas pelas minhas malfeitas encenações da realidade.

Abro os braços ao meu atencioso público... porque afinal de contas “O SHOW TEM QUE CONTINUAR”.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 28/06/2009
Reeditado em 28/06/2009
Código do texto: T1671384
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