A reputação.../com áudio
Acordou no meio da noite suando frio só de lembrar o sonho horrível que acabara de sonhar. Suas mãos trêmulas alcançaram a moringa d'água, enchendo uma caneca até a boca e a bebendo de um só gole. Meu Deus, ele pensou aterrorizado -devido aos seus recorrentes sonhos premonitórios- se isso acontecer não me restará nenhuma alternativa a não ser o suicídio. Se isso acontecer de fato não poderei mais encarar os meus amigos; não poderei sair às ruas, pois serei apontado: - É ele, é ele, ele é o cara, olhem... As pessoas comuns virão para cima de mim querendo entender como é que eu pude.... A mídia nunca mais me dará sossego. Os jornalistas vão me pentelhar, exigindo entrevistas para que eu explique tudo, tintin por tintin... Eu vou morrer de vergonha... Meus filhos vão me olhar diferente, como se eu não fosse o pai que eles sempre conheceram e a quem recorriam quando em dificuldades, principalmente as financeiras...
Sua mulher -que havia acordado- ouviu os passos claudicantes em direção a sala percebendo que alguma coisa muito grave estava acontecendo. Sentou-se ao seu lado no sofá, perguntando-lhe:
- Aconteceu alguma coisa, meu bem?
- Aconteceu-me um sonho horrível, respondeu.
- Posso saber que sonho foi esse?
- Sonhei que eu estava discursando lá no Senado Federal, com esse
meu sotaque nordestino, e ao terminar fui ovacionado frenéticamente
pelos meus pares, que não se cansavam de me dizer que eu era o
político mais honesto que já havia passado por aquela digníssima
casa.
- Sua mulher, alisando os seus cabelos pintados -que deixava à mostra
algumas mechas esbranquiçadas, para disfarçar- disse-lhe: Ora José,
não se preocupe com isso, nós estamos protegidos dessas calúnias
aqui no Maranhão.
- É verdade querida, mas... E a minha reputação?