O triste destino de Godofredo/ com áudio
A vida, perigosa e traiçoeira, não mais correspondia às expectativas alimentadas -anos a fio- pelo angustiado e deprimido Godofredo, cujos problemas sequestravam, irremediavelmente, as sobras de seu bom-humor.
Homem rico que um dia fora, agora contava os centavos de que dispunha, para os goles que o jogaria no chão frio daquele decadente boteco. A ex-mulher, companheira por mais de dez anos, apaixonara-se por outro homem, abandonando-o na mais completa tristeza e solidão. A desgraça se apoderara de seu mundo, esmagando as diminutas esperanças que porventura ousassem resistir.
Carregando pela cidade a sua pesadíssima dor, pensou ter ouvido uma voz dentro de sua cabeça, dizendo: - Venha por aqui, vire à direita, siga em frente... A voz continuou indicando-lhe o caminho, que ele seguia sem saber por que ou para que. Talvez, quem sabe, movido pela esperança de encontrar alguma saída milagrosa para o insuportável desespero que o atormentava.
Havia chegado -finalmente- à beira de um precipício que lhe pareceu mais raso que a cova onde estavam enterrados os fragmentos de sua saudosa alma. Entregando o seu corpo, saltou sem titubear.
Para a estatística fria e insensível da morte -que indiferente, trabalha sem parar- Godofredo foi levado como mais uma vítima... Como somos todos nós.