DOS CONTOS DO VILAREJO- " A Ressuscitada"

Velava-se o passamento de Eufrásia ao canto langoroso

das carpideiras... eis que se interrompeu o velório! Momen-

taneamente, os homens foram convidados a sair da sala

onde a morta dormia sobre uma das portas da casa, pois es-

tava na hora de dar banho no cadáver e vestir-lhe a morta-

lha branca. Ao primeiro ensejo foram todos para a calçada

cujo assunto de morte cessara. Servia-se café com pão e

manteiga, ao mesmo tempo em que se contavam gostosas

piadas para alegria dos muitos que compunham o grupo.

Terminado o ritual da mortalha, incontestes, voltaram ao lo-

cal, em prosseguimento às canções tristes que incrementa-

vam cada vez mais, os gritos dos entes queridos da finada.

Mormente, tendo parado a cessão de cantos, tudo ficou cal-

mo; somente fungados, elogios às qualidades espetaculares

da falecida – Seu sofrimento, sua bondade, seus aspectos

morais, quando sordidamente alguém balbuciou: -“ O corpo

está se mexendo!... – Houve um assanhamento geral – O que

foi suficiente para que todos partissem em disparada e se

colocassem bem à distância! – A defunta realmente, se levan-

tara e ao perguntar: - "O que é que eu estou fazendo aqui?" cer-

tamente, ninguém mais estava lá para responder. Os que an-

tes estéricos gritavam, naquele momento corriam a quilôme-

tros por hora. A ressuscitada seguindo ao longo de um corre-

dor, alcançou a sala de jantar, onde prostrado numa rede es-

tava um velhinho, que ao vê-la, sentiu um enrolamento nas

tripas... não podendo movimentar-se, fez na rede o que devia

fazer no pinico.

Zecar
Enviado por Zecar em 12/05/2005
Reeditado em 24/06/2016
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