DOS CONTOS DO VILAREJO- " A Ressuscitada"
Velava-se o passamento de Eufrásia ao canto langoroso
das carpideiras... eis que se interrompeu o velório! Momen-
taneamente, os homens foram convidados a sair da sala
onde a morta dormia sobre uma das portas da casa, pois es-
tava na hora de dar banho no cadáver e vestir-lhe a morta-
lha branca. Ao primeiro ensejo foram todos para a calçada
cujo assunto de morte cessara. Servia-se café com pão e
manteiga, ao mesmo tempo em que se contavam gostosas
piadas para alegria dos muitos que compunham o grupo.
Terminado o ritual da mortalha, incontestes, voltaram ao lo-
cal, em prosseguimento às canções tristes que incrementa-
vam cada vez mais, os gritos dos entes queridos da finada.
Mormente, tendo parado a cessão de cantos, tudo ficou cal-
mo; somente fungados, elogios às qualidades espetaculares
da falecida – Seu sofrimento, sua bondade, seus aspectos
morais, quando sordidamente alguém balbuciou: -“ O corpo
está se mexendo!... – Houve um assanhamento geral – O que
foi suficiente para que todos partissem em disparada e se
colocassem bem à distância! – A defunta realmente, se levan-
tara e ao perguntar: - "O que é que eu estou fazendo aqui?" cer-
tamente, ninguém mais estava lá para responder. Os que an-
tes estéricos gritavam, naquele momento corriam a quilôme-
tros por hora. A ressuscitada seguindo ao longo de um corre-
dor, alcançou a sala de jantar, onde prostrado numa rede es-
tava um velhinho, que ao vê-la, sentiu um enrolamento nas
tripas... não podendo movimentar-se, fez na rede o que devia
fazer no pinico.