BARBEIRAGEM
Sob a proteção de um papel oficializado, o homem de
bisturi na mão tenta convencer a uma irritada senhora,
de que seu marido não é mais passível de dor: Foi o
seu quisto que reagiu fora do comportamento normal,
na mesa de operação, diz o médico. Nas mesmas pro-
porções um trabalhador, pela cartada do apêndice, te-
ve os tecidos da barriga destruídos; esta é hoje como
um bolo fofo cheio de flacidez a se queixar dos graus
colados nos brilhantes, que assumem o direito de de-
florar a virgindade dos corpos ao amém dos porretes
dos martelos dos juizes. – Descontrolada, a paciente
pulou da mesa, saiu correndo de camisola e tudo,
quando já quase envolta pelo cheiro do desmaio, sus-
surrando discutiam os médicos: “ É piloro!.. Não!...
É hipófise!...” As fotografias não definiam o que de-
veria ser extirpado. – Entre duas crianças, uma foi o-
perada das amídalas, outra de fimose. Foi retirado
de uma o que devia ser retirado da outra.
À luz da barbeiragem decidiram que ambas perderiam
a fimose e as amídalas por necessidade de expli-
cação aos pais. Barbeiros iguais a estes a profissão es-
ta cheia, que digam os hospitais públicos.