A DESTRUIÇÃO DO REI

O Rei Pafúncio engendrou a destruição do

que já era morto. Acostumado à vida, es-

queceu-se de deitar, decretando a morte dos

poetas e seu próprio rejuvenecimento na cor-

te – inventando a solidão. Absorto de criati-

vidade no reinado de Confúcio, esmerou-se

em novas formas descobrindo a “cicuta”, ma-

roto calmante das almas versejantes – ofere-

cendo-lhes um banquete. – sim, porque os

muros entupidos ostentavam-lhe o furor das

rimas, com que lhe entortavam a coluna, ce-

gavam-lhe a visão, ensurdeciam-lhe e voci-

feravam-lhe os dentes pontiagudos, medin-

do força com a poesia da plebe. Mortos os

poetas, sobrara-lhe a cabeça – mais tarde de-

capitada pela poesia dos poetas - que sobre-

vivera.

Zecar
Enviado por Zecar em 12/05/2005
Reeditado em 01/07/2016
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