A voz intensa

Tatiane! Tati!

Ouço invocar, à distancia de um universo.

Tati!

A voz tornar-se intensa. Paro e olho em redor na expectativa de a achar.

Repentinamente tudo se fez tão sombrio, tão sem graça.

Para onde foram as poucas nuvens alvas que cruzavam sobre mim? Sinto que os meus lábios se abrem em assombro. Para onde… para onde foi o astro rei que ainda neste instante me transmitia calor?

Tenho de o achar! De modo súbito parece que tudo está na dependência disso… será que… sim! Cerrando os olhos ainda consigo ver um feixe de claridade! Não sonhei, não inventei, não imaginei, não… não. Não consigo enxergar nada.

A voz permanece a invocar-me. Tati!

Permaneço a sorrir. Penso que permaneço a sorrir. Mas… se permaneço a sorrir porque é que me dói o coração? Se sorrio porque é que não permaneço feliz?

Já sei! Se calhar, se cerrar os olhos com força, com muita, muita força, quiçá me consiga encontrar novamente entre as nuvens, quiçá volte a sentir-me iluminada, talvez a calma volte a adentrar no meu corpo, dar-me alma e voltar a sair ainda mais luzidia… Sim. Vou cerrar os meus olhos. Mas… porque os sinto tão carregados? Será que?... Só queria que aquela voz se mantivesse em silêncio. Sinto que zomba de mim. Porque zombas tu de mim?

Como eu queria voltar a contemplar o astro rei...

Permaneço com os olhos cerrados. Os meus pulsos estão fechados, os meus dentes também. Eu quero, eu tenho vontade, eu desejo…

Tati… Tatiane, Tati… sussurra-me, e eu sinto que permanece à minha margem, que me circunda, que me abrange numa teia da qual eu já não sei fugir.

Já não sorrio. Agora sei.

Não abro os olhos, não abro, não abro.

Tatiane… sou eu… tu conheces-me…

E eu abro os olhos. E acho…

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 07/06/2009
Reeditado em 08/06/2009
Código do texto: T1636507
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.