A rocha

Do alto dos seus muitos metros, no auge de uma imponência eterna, levanta-se majestosa a rocha. Pela primeira vez depois de muitas promessas, deixei-me desencaminhar pelos extensos braços que há muito me esticava.

Aquela rocha singular parecia muito fria. Acheguei-me cuidadosa. Era castanha, mas não parecia cálida, não parecia capaz de ser aquecida. Uma extensa passagem que falecia num afastado feixe de claridade.

Entrei distraída, pé ante pé, ofuscada pela escassa luz.

O espaço foi-se aos poucos fechando sobre mim, abraçando-me, pedindo-me para sentir.

Ao longe irrompiam gritinhos abafados de crianças, rumores de um final de visitação não desejado…

Um a um, contudo, foram sumindo, como que varridos, expatriados…e naquela passagem imensa, nada mais se ouviu exceto o meu nome.

Por momentos vacilei, por instantes tive medo. Até entender. Abri um sorriso e coloquei, afavelmente, uma mão numa das pedras mais perto de mim. Senti cócegas na palma da mão. Compreendi que me tocava de volta. Um silêncio, divergente de todos os tantos outros silêncios que já me encheram na vida, retumbou. Um silêncio que era mais do que a ausência de ruído, um silêncio que me permitiu claramente ouvir o bater tranquilo do meu coração. Foi quando fechei os olhos. Foi quando me consenti sentir. Energia. Não mais matéria. Não mais um corpo e uma pedra. Energia somente. Amantes co-autores numa dança imortal, fluir de confissões e segredos, eternidade de um momento único compartilhado num mutismo infindo.

Perdi a conta ao tempo. Não faço ideia de quanto tempo estive ali, imersa naquela conversação. Segundos? Horas por acaso? Pouco ou nada importa. Afinal de contas…quem verifica o tempo que o tempo possui quando se sente feliz?

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 03/06/2009
Código do texto: T1630291
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