Passeio dançante
Tranquilo, era como descreveria aquele animal. Passeando pela calçada como se o mundo ao redor fosse apenas seu. Um lindo felino, com uma bela cauda. Poderoso. Não apenas andava, parecia dançar, saltitar. Jovem, belo. E também um pouco gay. Sua cauda fazia delicados movimentos, serpentiando como a rabiola de uma pipa em épocas de vento. Olhava com desdém para os que crusassem seu caminho. Era como se os tivesse tirado de seu nariz. Dançou durante uns bons minutos até que foi avistado por um casal de cães. Os cães não demoraram para alcançá-lo, devido ao seu balé. Ao perceber que o perigo o rondava, tomou postura de um ágil felino, endireitou o passo e pôs-se a correr velozmente. Em poucos segundos já estava à léguas dos seus adversários.
Quando pensou que estivesse livre da ameaça voltou a desfilar na passarela urbana que se encontrava. De volta aquele olhar de quem passou a vida inteira comendo coisas de que não gostava. Esnobe, orgulhoso de seu orgulho. Único. Real. A única coisa que poderia fazê-lo tirar aquele sorriso sarcático de sua cara metida, foi o de fato aconteceu. Os cães o alcançaram novamente.
Desapareceu o bichano cruel e poderoso, reviveu o veloz corredor. Em sua fuga infinita do destruidor. Ou, dos destruidores. Quando estava perto de ser vencido, encontrou um muro ao qual subiu agilmente.
Lá de cima, ele olhava, com seu olhar esnobe. Voltando a rebolar no alto do muro.