Durante a noite

E se uma luz branca lhe ocultava o que ao mesmo tempo tornava claro, durante a noite o corpo dela debruçava-se sobre o cansaço do profundo da confusão em que vivia todos os dias. Todos os dias. Alheia à intensa perturbação das coisas nascia de manhã, pela chuva, nas nuvens frias e numa certa e fina raiva ocasionada por revolta. A noite fazia transbordar astros, um rádio ficava estendido todo o dia em cima da mesa. E ela, todavia, andava noite após noite, através desta noite ou de outra qualquer que se lastimava no interior da eternidade como uma estrada que lhe despedaçava as mãos de sangue e solidão. Amanhã morrerei. Enunciava em voz baixa. Paralisada no gesto vagaroso de quem vela já à distância. Posteriormente ao som. Dentro de si, cada vez mais distante pelos dias desviados na chuva e nos traços das estrelas. Andando. Sobre as águas na enorme distância dos olhos cegos. Pois amanhã estará perto, finalmente. No vocábulo que se torna a dizer. Por entre a distância. No clamor sem valor do horizonte fechado como os momentos. caminhando. Bailando. Como os vocábulos. Diminutas comoções. Perto de extinguir a diversidade de ser. A escuridão na escuridão. A compulsão na compulsão. O limite no limite. O sofrimento no sofrimento. De corpo enrugado. Próximo da claridade que então diminuía.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 08/05/2009
Código do texto: T1582043
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.