O Homem de Nazaré
Naquela noite. Cristo verteu lágrimas. O Homem de Nazaré olhava a chuva que limpava o seu próprio peito e tentado de cólera permitia-se cair em tristeza e paixão. Conhecendo Jesus o que lhe aconteceria, levava as mãos ao rosto e em silêncio pensava acerca da sua prisão. A si mesmo tinha dado em perfídia a sua própria boca. A si próprio tinha mencionado: 'sou eu'. Alguns dos que o rondavam de admiração caíram por terra como num clarão, e erguendo-se o Filho do Homem enunciou naquele tempo:
'Em verdade, em verdade, vos digo:
não se perturbe o vosso coração
porque na casa de meu Pai há muitas moradas
e o caminho que eu trago virá até vós
através de mim
porque eu estou no Pai e o Pai em mim.
Para onde eu vou ninguém pode também ir
porque estreita é a passagem rumo à glorificação.'
Cristo levou as mãos à sua barba. Possuía os olhos quase cerrados. Por entre a sua alma caminhavam imagens de si mesmo e assim desmontava em dor o que em si existia, até agora, de peculiar. Cristo derramou lágrimas. Naquela noite de luminosidade. Luzente pelo amanhecer.