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HÁ MUITO TEMPO


Estávamos alí sentados,
outra vez falando sobre a mesma coisa.
A mulher dizia:  Devemos experimentar.

Eu estava cheio de dúvidas, não tinha certeza
alguma do que era certo, do que era errado.
Eu continuava achando que não deviamos fazer,
tínhamos tantos brotos, tantos frutos,
e eu não queria arriscar mais nada.

A mulher dizia: Olhe bem, para que servem?
Se a gente deixar elas vão comer tudo,
e elas são nossas, então o que custa pegar
uma e experimentar?

A mulher era um pedaço de mim,
e eu não queria magoa-la,
então eu fiz o que ela queria.

Peguei uma das aves,
era uma espécie de pomba, pequena,
acostumada com a minha presença,
não se assustou, não fugiu.

Levei à próximo da fogueira,
tenho vergonha de dizer que a matei.

Enquanto a pequena pomba era assada,
eu olhava calado, a mulher olhava ansiosa,
e finalmente disse:    está pronta.

Comemos em silêncio.
Achei o gosto estranho, a mulher gostou.

Percebi que comeríamos novamente,
a mulher disse:
Pode deixar que amanhã eu pego uma delas.

Para mim já não importava,
eu havia feito primeiro,
Havia matado a primeira ave.