Carta para Paris

A tinta foi acabando. A vontade de reviver um encanto era tanta, mas o silêncio de um oceano era intransponível na perspectiva de dois corpos humanos. A caneta ainda riscava, rasurava, marcava o papel com força até quase rasgá-lo. A vontade de rever aguçava. Era como se permanecesse absorta num mundo seu invadido. Como se a sua pele guardasse a essência do toque e do perfume em suas entranhas. A frase semi-escrita numa folha solta tinha a aparência de um grito seco que ia sumindo aos poucos, como uma voz arrancada de dentro de tantos desejos e verdades recônditos. Apertou a ponta da caneta na língua com a esperaça de escrever ainda as últimas palavras: tinha o gosto da saudade na boca.

Lia Vasconcelos
Enviado por Lia Vasconcelos em 14/04/2009
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