Os olhos do imperador
O imperador tudo via do balcão de seu palácio: a cidade lá embaixo, cheia de pessoas, os escravos e seus trabalhos degradantes, os navios atracados no porto, as mulheres buscando água na cisterna, o tempo a passar, a vida e a morte.
E o que os olhos do imperador não enxergavam, certamente seria visto por um dos seus incontáveis espias. Estavam em todos os lugares, nas tavernas, nos prostíbulos, nas ruas, no mercado. Sempre atentos para qualquer impropério contra o imperador, ou para boatos de revolução. Diziam que o número deles era de três mil, mas outros, mais exagerados, calculavam que havia dez mil espiões, pois cada um dos citadinos era um espião dos outros, e todos queriam ser recompensados pela lealdade ao governante.
Mas ele demorou para perceber o que ocorria em seu próprio jardim. O irmão e a esposa saiam para longos passeios e conversas intermináveis. O imperador se recusou a aceitar a verdade.
— Traidores dentro da minha própria casa? Jamais!
No entanto, logo chegaram os rumores, e ele se viu na obrigação de tomar uma atitude.
— Somos leais a você — eles disseram, sob tortura, mas o imperador não podia acreditar. Mandou decapitar a esposa e fez do irmão um eunuco, exilando-o posteriormente numa ilha.
Dias depois, uma revolta tomou conta da cidade. Invadiram o palácio e prenderam o imperador. O líder dos insurgentes era o seu chefe-da-guarda, o mesmo quem lhe havia informado do romance do irmão com a esposa.
— Imbecil! Puniste as únicas duas pessoas nesta cidade que lhe eram fiéis! — disse o chefe-da-guarda, antes de orderar a execução do imperador.
Um mês de festa. O povo livre da opressão do olho que quase tudo via.