As frustrações de Nunes

Nunes era um cara peculiar.

Pela terceira vez na mesma semana flagrou-se parado observando-a com um olhar introspectivo, a poucos metros de distância.

Mal tinha coragem de chegar perto daquele jeito. Não entendia o porquê, mas apresentava um bloqueio psicológico gravíssimo.

Tentava relembrar memórias de infância que pudessem explicar a dificuldade, mas não lhe ocorria nada.

Pra piorar, ela ficava sempre ali, imóvel, limpinha e cheirosa, disponível a qualquer um, porém impassível aos sofrimentos dele.

Nunes tinha plena certeza que mesmo se fosse até lá não iria conseguir interagir, por medo ou insegurança. Ou por ambos. Era sempre assim.

E o sofrimento não era pouco: Sentia ondas de calor que vinham desde a ponta do pé até a nuca... Uma sensação indescritível.

Naquele momento teve vergonha de si mesmo e pensou até em procurar ajuda profissional, afinal o problema era definitivamente com ele. Elas certamente não tinham culpa de nada.

Aquela não era a primeira vez que aquilo acontecia, e a situação já começava a atrapalhar sua vida pessoal.

Enquanto permanecia parado ali, sem ação, começou a lembrar de todas as vezes que passou por situações semelhantes.

De todas as vezes que chegou até elas, mas não saiu nada. Sentia-se psicologicamente impotente. Um eterno frustrado, enfim.

Enquanto a observava ali, branca como a neve, desprotegida, completamente disponível e exalando um agradável cheiro cítrico, teve vontade de chorar.

Porém, subitamente a sensação se tornou mais forte. Nunes, já empalidecido, começou a suar frio.

Precisava sair dali rápido, ou as coisas piorariam de vez.

Não queria passar vergonha, ainda mais na frente dela. Seria ridículo.

Sem dizer qualquer coisa, correu apressadamente até o carro.

Não havia outra coisa a se fazer: Infelizmente, Nunes só conseguia cagar na privada de casa.

Era fiel a ela, e as outras não tinham a menor chance.

Herr Brehm
Enviado por Herr Brehm em 03/04/2009
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