A câmera
Instalaram aquela câmera no canto do escritório, sempre apontada para a mesa do Roberto.
— Eles desconfiam de mim, aqueles filhos-da-puta! Estão insinuando que sou incompetente, querem fiscalizar o meu trabalho! — ele reclamava com os colegas.
Oito horas por dia... oito horas com aquela câmera voltada pra ele. Aliás, ele jurava que, quando se levantava pra um cafezinho ou pra tomar uma água, a câmera emitia um zunido e seguia seus movimentos.
— Desconfiam de mim! De mim, que dei quinze anos pra esta merda de empresa!
Então, uma noite, Roberto foi ao escritório, burlou a segurança e, com o cabo duma vassoura, meteu bordoada na câmera.
Na manhã seguinte, feliz, assoviando, Roberto entrou no escritório. A câmera quebrada não estava mais lá, porém, para sua surpresa, havia quatro novas câmeras, uma em cada canto da sala.
Todas apontadas para a mesa dele, fitando-o com o frio olhar mecânico.