Devir da Mulher Nua
Devir da Mulher Nua
Ela estava nua, tão nua quanto pode ser uma mulher sem seus brincos e o esmalte nas unhas. Sua pele inalava o aroma das maçãs vermelhas, argentinas, daquelas que vinham embaladas em papel de seda azul, azul também o par de seus olhos nos quais habitavam a candura dum recital ao ar livre num anoitecer duma primavera imprecisa . Imprecisas, indecisas também eram suas mãos tais como adoráveis gaivotas ao luar, delas, estendidas, escorriam uma ânsia de poesia invertida que à trouxesse de volta à sala de estar.
Duas contas esboçavam uma lembrança , frente à veneziana ,semi aberta, as rendas do cortinado alargavam-se em sorriso triste... Pequenos pés tão nus e alvos como podem ser os pés de uma mulher, sem esmalte nas unhas, descalços e abandonados ao banho de estrelas duma noite qualquer .
Tinha 24 anos , um vestido branco de linho no armário , um colar de pérolas no porta jóias, um anel de brilhantes também, um estojo com colônia de rosas e uma passagem de avião na mesinha do telefone que diante à nudez nada mais significavam , o vestido, anel, colar ou a colônia adocicada ,perdido olhar a fizera enternecer-se do despir-se ante o espelho da vida de ilusões e passageiras perdidas decisões . Haveria de libertar-se das coisas e Fábulas infantis . Da vida queria as mais nuas, as mais suas !
Desligou o telefone e durante aquela semana tomou banhos de espuma, bebeu água mineral ,das frutas sorveu a fragrância e sabor , cobriu os espelhos da casa, ouviu o canto dos pássaros ao amanhecer, dançou ao acenar de todos os Pôr de Sóis . Comeu seu pão, viu uma rosa as pétalas abrir e de sorriso vestiu-se !
Semeou margaridas na floreira não trabalhou. A solidão domesticou? acreditava ,a culpa e o medo desta decisão crua haveria de resolver se já não as havia ultrapassado ... Pensava...
Enfim, tirou férias e não viajou ! Entretanto iniciou a percorrer um território desconhecido .
E... desta vez , ainda não se casou !
Reconhecida potência e ânsia de mais viver ,lançada ao seu devir descansada, espreguiçou-se demorada, natural e deliciosamente nua e sua.
- 2005