O rei e o arquiteto
— Você tem cinco meses para concluir este palácio — o rei disse ao arquiteto-mor.
A construção do que deveria ser o palácio real já se estendia por dez anos e sem previsão de término, por isto, o arquiteto se desesperou ao ouvir o comando.
Ordenou a contratação de mais quinhentos operários, mas era tanta gente sob sua supervisão, que a obra saiu do controle. A torre, que deveria ser erguida no setor noroeste, surgiu no sudoeste, o salão real ficou com proporções desarmônicas, e havia quinze janelas a mais num dos lados do que no outro.
Findo o prazo, o rei voltou para inspecionar a obra e se surpreendeu com a desorganização e com o resultado.
Ele coçou o queixo e fitou longamente a legião de operários, por fim, disse ao arquiteto-mor:
— Ponha tudo abaixo e comece do zero. Termine o meu palácio quando houver de terminá-lo.
Morreu o rei e morreu o arquiteto-mor; morreram os herdeiros do rei e os sucessores do arquiteto; e morreram também as gerações seguintes.
O palácio ainda está sendo construído, não mais pelas mãos dos homens, mas pelas areias do tempo, a recobrir salões, pátios, câmaras, umbrais e sonhos irrealizáveis.