Contos MInimalistas n.18
Na estação
A estação estava cheia. Ela pegou o ticket e conferiu o horário. Tudo certo e tinha quase uma hora ainda. Resolveu tomar um café.
No balcão, o calor local e o aroma trouxeram lembranças. Quanto desejara aquela viagem! Estava deixando tudo por ela: emprego, namorado, seu curso. E limpara a poupança depois de vender tudo o que tinha. Dissera-se: agora ou nunca mais!
Um trem chegava. Observou os passageiros na plataforma.O frio fazia-os virem atrás de uma bebida. Um deles se aproximou e pediu leite morno com canela.
Ela não pode deixar de sorrir. Difícil ver um homem pedir tal coisa. Olhou-o. 'Nossa, que tipo interessante.' Não soube bem por quê seu coração deu uma volta completa quando ele sorriu ante o olhar dela. O mundo ficou colorido, e teve uma remota impressão de já tê-lo visto.
Ele se apresentou e uma conversa fluiu facilmente. Era pintor de quadros e acabara de chegar da Itália. Ia se estabelecer ali por dois anos para restaurar a capela. Após algum tempo, quis saber se ela não gostaria de posar para ele.
Contou-lhe que estava indo à Itália, o grande sonho, e que largara tudo para realizá-lo. Percebeu que estava na hora. Chateado, ele forneceu seu telefone.
Ela entrou no trem e acenou para ele. Lera, certa feita, que a vida cintilava uma única chance mágica mas que exigia uma escolha muito difícil e que isto é que a valorizava demais. Dando de ombros, lembrou que não se podia ter tudo. Que pena! Sentou-se e fechou o vidro da janela.
Tudo foi ficando para trás. Paisagens conhecidas, casas, os sonhos que ali deixava. Uma nova vida começava naquele instante e era o que desejara. Lembrando-se do momento em que, ao segurarem as mãos na despedida, os lábios dele encostaram em sua face, ela fechou os olhos e adormeceu.
Então, dez minutos depois, respirou fundo e desceu na próxima estação.
Silvia Regina Costa Lima
11 de março de 2009
Na estação
A estação estava cheia. Ela pegou o ticket e conferiu o horário. Tudo certo e tinha quase uma hora ainda. Resolveu tomar um café.
No balcão, o calor local e o aroma trouxeram lembranças. Quanto desejara aquela viagem! Estava deixando tudo por ela: emprego, namorado, seu curso. E limpara a poupança depois de vender tudo o que tinha. Dissera-se: agora ou nunca mais!
Um trem chegava. Observou os passageiros na plataforma.O frio fazia-os virem atrás de uma bebida. Um deles se aproximou e pediu leite morno com canela.
Ela não pode deixar de sorrir. Difícil ver um homem pedir tal coisa. Olhou-o. 'Nossa, que tipo interessante.' Não soube bem por quê seu coração deu uma volta completa quando ele sorriu ante o olhar dela. O mundo ficou colorido, e teve uma remota impressão de já tê-lo visto.
Ele se apresentou e uma conversa fluiu facilmente. Era pintor de quadros e acabara de chegar da Itália. Ia se estabelecer ali por dois anos para restaurar a capela. Após algum tempo, quis saber se ela não gostaria de posar para ele.
Contou-lhe que estava indo à Itália, o grande sonho, e que largara tudo para realizá-lo. Percebeu que estava na hora. Chateado, ele forneceu seu telefone.
Ela entrou no trem e acenou para ele. Lera, certa feita, que a vida cintilava uma única chance mágica mas que exigia uma escolha muito difícil e que isto é que a valorizava demais. Dando de ombros, lembrou que não se podia ter tudo. Que pena! Sentou-se e fechou o vidro da janela.
Tudo foi ficando para trás. Paisagens conhecidas, casas, os sonhos que ali deixava. Uma nova vida começava naquele instante e era o que desejara. Lembrando-se do momento em que, ao segurarem as mãos na despedida, os lábios dele encostaram em sua face, ela fechou os olhos e adormeceu.
Então, dez minutos depois, respirou fundo e desceu na próxima estação.
Silvia Regina Costa Lima
11 de março de 2009