Dia Comum


    ... e o dia cravara seu cansaço naquela ruga a mais. O rosto, realmente, estava mais velho que o espírito. O sol, a poeira, o minuto arrastado, tudo estava mais distante porque, à sua frente, havia um fim-de-semana; se houvesse mar, seria possível extrair, de seu mistério, um sorriso, até mesmo ium sorriso-família. Pior seria se chovesse. Mulher, filho, chuva: eis o medo. A mão passou pelo cabelo - negrinho ainda - sem que ele se desse conta do gesto. O importante era apagar a pergunta que lia em cada sinal fechado: "...terei coragem?... "...terei coragem?..." "...terei coragem?..." 
    Pronto. Agora era só entrar na primeira rua à esquerda "...terei coragem?..." No domingo de manhã tem missa. Se fizer sol, a praia é uma solução. Mas se chover... terei coragem?
    O carro parou. O portão, a porta, um retorno covarde.
    De dentro, ficou esquecida uma voz alegre, pequena e sozinha:
"Mãe, papai chegou!"
Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 12/03/2009
Código do texto: T1483442