Era um planeta estranho
Este é um micro-conto que extrai dum conto maior que se chama “Revolta num planeta menor”.
Depois de ter acabado o conto principal cheguei à conclusão que o conto que aqui vos apresento dispunha de alguma autonomia para ser apresentado de uma forma autónoma, pelo que decidi arriscar e publicá-lo quer neste site, quer um pouco por todo o lado.
Se no entanto estas linhas tiverem a receptividade suficiente e se os comentários forem nesse sentido, dentro de pouco tempo publicarei o conto maior que lhe deu origem e que revela totalmente o mistério deste “planeta estranho”.
Era um planeta estranho.
Esquecido de tudo e de todos, a sua forma de vida era a guerra, e era para a guerra que tudo e todos viviam e morriam.
Todas as profissões eram para ela direccionadas, qualquer profissional que não fosse um guerreiro, ou tivesse uma ocupação que desse algum contributo às inúmeras batalhas, era condicionado para elas. A economia de guerra constituía um padrão a ser seguido por tudo e por todos, numa espécie de obsessão pela morte global, sendo a paz uma palavra estranha, a ser utilizada quase só estilisticamente ou como metáfora, dado ninguém de facto saber o que ela realmente representava, pois, e até onde ia a sua memória colectiva, tinham vivido em guerra perpétua.
E o mais estranho era não haver crianças neste astro.
Não havia, e ninguém parecia reparar nisso, tão envolvidos que estavam na lógica guerreira. Claro que alguns sentiam a falta delas, sentiam a falta do seu afecto, de dar e transmitir essa forma de afecto tão própria das relações humanas. Mas eles não eram humanos como estamos habituados a conhecer, eram guerreiros, e por isso as crianças não passavam de um eco esquecido nas suas mentes e corpos embrutecidos pela cadência quase interminável dos combates.
A guerra era o seu princípio, meio e fim.
A guerra era o seu passado, presente e futuro, sendo que nada mais existia, nada mais importava.
Era um planeta estranho.