O QUE SERÁ
MARCARAM para se encontrarem à beira do lago.
O clima seria romântico, não fosse a apreensão estampada no rosto dele.
– E então?
– Deu positivo, ela afirmou.
– Tem certeza?
– Claro que tenho. Trago um filho seu na barriga. O nosso filho.
Ele passou as mãos pelo rosto. Na escuridão apenas o ruído de grilos e rãs marcava o silêncio entre os dois.
Tornou a falar:
– Não está pensando em levar esta gravidez adiante, está?
– E por que não? – ela sorriu.
– Já pensou no futuro que espera essa criança?
– Falando desse jeito parece que o mundo já está perto do fim.
– Neste caos em que vivemos, não é de duvidar. Violência, desemprego... O que será desta criança quando crescer?
– Sei lá, pode ser tanta coisa. Quem sabe um médico. Ou médica, se for menina. Pode ser ainda dentista, modelo...
– Já sei.
– O quê?
– O que ele será. Acabo de pressentir.
– Advogado?
– Não.
– Jogador de futebol?
– Também não.
– Será o que, então?
– Isto! – respondeu ele, empurrando-a para dentro d’água. – É isso o que o seu filho vai ser, sua vadia!
E vendo-a desaparecer nas profundezas do lago, revelou:
– Escafandrista!