."O VIOLONCELO".


Numa noite de verão, noite de muito calor;
daquelas noites que nos sufoca, que nos
mantém acordados, em que os nervos não
nos deixam dormir... Que o quarto fica muito
pequeno; ainda mais, quando se está só.
Era uma noite assim, em que a rua estava 
calma, e que a cidade parecia parar.
Eu sento na varanda e olho para o céu, olho
no horizonte... Eu olho para o mar.
No céu estrelas piscando, a lua era clara, e
na praia ninguém; não havia embarcação na
água, nem no ar... Mas de repente um som
rasga o silêncio da noite, era o som de um 
violoncelo que soltava os seus acordes, que
deixava a sua linda música no ar.
Eu recosto na cadeira de balanço, e aquela
música me acalma, eu fecho os olhos para
deliciar-me daquela música... Para curtir
melhor, aquela canção.
Não sei de onde vinha o som, nem quem o
tocava... Só que era uma música já conhecida,
uma música que eu tanto gostava.
"IO CHE AMO SOLO A TE", era a música,
que alguém tocava; ah! Aquela canção me
transportava, e com aquele som eu viajava, 
a música que eu tanto ouvi... Uma música
que eu contigo dançava.
Quisera eu conhecer aquele exímio tocador,
ou até poder agradecê-lo, por aqueles 
maravilhosos momentos, que ele me 
proporcionou.
Naquele curto espaço de tempo eu viajei, eu
recordei, eu regressei; por momentos passados,
por noites calorosas e frias, que já estive ao seu 
lado.
E o violoncelo não parava... E com aqueles acordes
suave, eu adormeci, e acordo com o sol batendo
no meu rosto; eis que já era dia, a cidade já fazia
barulho, e o calor continuava.