O pai

O pai doente sentado em seu sofazinho de costume.

A mãe passava ele olhava...

A mãe voltava ele olhava...

A mãe lhe preparou a última refeição: café com leite, bolachas de água e sal, mamão.

O pai come pouco: se diz enjoado, sem apetite.

O pai calmamente solicita à mãe que o retorne à cama.

A mãe sempre muito forte ergue o corpinho do pai e o conduz no colo até o local de descanso - o quarto que fora dos filhos (no andar debaixo da casa).

Ali ficou, depois de almoçar também muito pouco.

A filha, estava lá naquele dia.

Mãe e filha ficavam transitando da cozinha ao quarto, sempre preocupadas com o estado de saúde do pai.

A filha adentra ao quarto e encontra o pai com muita dificuldade para respirar, quase desfalecido.

A filha o toma nos braços e lhe dá uma sacudida forte, lhe devolvendo os sentidos.

O pai pede o nebulizador acreditando que com o aparelho sua respiração iria melhorar.

A filha grita a mãe e logo tratam de solicitar uma ambulância.

A ambulância prontamente chega.

A mãe atravessa todo o quintal com o pai no colo,

chorando e muito nervosa.

O pai fala à filha, já dentro do carro:

-A mãe é boba coitada, fica nervosa à toa.

O pai deu entrada no hospital.

A filha cuidou da internação.

Subiu com o pai até a enfermaria.

As últimas palavras do pai foram:

-Fala para Mãe não ficar nervosa, não!

Algum tempo depois chega a notícia da morte do pai.

A tal morte, a única que foi capaz de separar o pai, a mãe e a filha.

Do pai, restaram muitas lembranças: dos natais fartos, das festas de fim de ano, dos carnavais...

Ah! Os carnavais...

Nestes dias o pai se fantasiava todo: colocava as roupas da mãe e saía todo faceiro;

Pintava o rosto de forma ridícula, com o batom da mãe, e também borrava os lábios finos;

usava a famosa dentadura que as crianças morriam de medo, mas só nestas ocasiões.

Gostava de assustar os netinhos com ela. Os pequeninos saiam feito doidos correndo, mas adoravam a farra.

Meu Deus, Como nos fazia rir!

Do pai agora só resta saudade...

muita saudade...

rdeziderio
Enviado por rdeziderio em 10/01/2009
Reeditado em 12/01/2009
Código do texto: T1377465
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