Sem fantasia (conto realizado à luz da música de Chico Buarque)

De repente ela abre a porta, escancarando sua figura pequena, envolta na seda vermelha e meio gasta do robe que atrevidamente revelava seios cheios, como a esperar que as mãos dele os envolvessem. Está diante dele, magnificamente mulher, inteiramente fêmea, docemente liberta do julgo opressivo da noite.

É dia já. A noite se foi, se foram as obrigações do amor pago, se foram os compromissos eróticos. Agora não é mas a prostituta, mas a mulher que aguarda ansiosa os beijos de língua, puros, limpos; longe os perniciosos odores de cigarros, sexo, wisque e vinho do porto, ansiava agora pelo perfume simples do suor adolescente.

E ele, frágil, ante a proximidade dela, envolto no perfume doce que a envolve estende os braços criando em torno dela uma aura dele mesmo.

Nada há em que pensar senão no ano letivo comprometido e abalado pelas tardes mornas repletas de preciosas lições.