A ORAÇÃO

estavam todos sentados a mesa esperando o macarrão. silencio, façamos a nossa dominical oração. todos juntaram as mãos, os velhos amadurecidos em recalques, os adolescentes contidos em seus desejos e as crianças clamando por barro e suor. foi um instante intenso e doloroso em benefício da gratidão. até que Evaristo: pai, marido e filho, irreversivelmente emaranhado na teia da velha aranha, deu um basta, um ultimo suspiro desesperado e disse: chega! pra mim chega!

levantou para o assombro de todos no meio de um pai-nosso, entrou no carro, zerou a kilometragem do automóvel e depois de muitas manobras e curvas alcançou a rodovia, esse grande rio, andou mil kilometros, parando o carro proximo a areia.

a chuva começou a cair, tirou a roupa em frente aos edificios vizinhos a avenida beirando a praia e tomou um banho libertino no sal efervescente do mar