POEMAS PARA UM AMOR IMPOSSÍVEL
Naqueles versos, Rosinha esvaía-se pela tinta da caneta para abandonar a merencória vida de prostituta que levava. Empertigava os seus sentidos para um amor idílico e platônico: o policial militar que fizera uma batida na vila mimosa e salvara Rosinha de um espancamento do cafetão Jesualdo, que alugava o quarto. Rosinha atrasara os alugueres para cobrir as despesas com sua filha que sofria de ataques epiléticos e morava com a avó em Rio das Pedras.
Maurício, o policial amado platonicamente por Rosinha, estando à paisana no domingo, resolveu, a convite de sua esposa, freqüentar o culto pentecostal de uma igreja nova que se instalara na comunidade. Foi quando presenciou um fato inusitado: O Pastor, depois de sua pregação, dirigindo-se a um estranho que acabara de entrar, pronunciou gritos e sussurros, clamando em alta voz:
“-Afasta satanás desse corpo! Sai demônio, em nome de Jesus! Eu te ordeno!”.
Em seguida o pastor grita novamente no ouvido e dá um leve toque na cabeça desse homem estranho que, com os braços para trás, voz rouca e palavras incompreensíveis, manifesto do diabo em seu corpo, atende à ordem do pastor e despenca ao chão. Porém, antes que caísse, Maurício que estava próximo presenciando aquela horrível cena, num ato reflexo e oportuno, segurou a cabeça do homem, que com a queda certamente bateria com ela sobre um ferro pontiagudo que se encontrava no batente do altar. Quando o homem retornou a si e sabendo do gesto heróico daquele que lhe salvara a vida, intentou dirigir-se a ele para agradecê-lo.
Mas eis o infortúnio desse infeliz momento. O homem que estava possesso e que fora salvo era Jesualdo, o cafetão, que reconhecera em Maurício o policial que outrora o prendera na vila mimosa. A gratidão sucumbiu à cólera, de cuja sanha Jesualdo não pode controlar. Ali mesmo, sacou da arma branca que trazia à algibeira e desferiu o contundente e profundo golpe fatal na ilharga de Maurício. O demônio, de todo, não havia sido exorcizado pelo pastor.
Rosinha, que tempos depois soube do fato, nada lhe restou a não ser manter-se fiel às pagas do cafetão, resignando-se à única alternativa: escrever poemas de saudades, para um amor impossível.
Brasília, 16.11.2008
Naqueles versos, Rosinha esvaía-se pela tinta da caneta para abandonar a merencória vida de prostituta que levava. Empertigava os seus sentidos para um amor idílico e platônico: o policial militar que fizera uma batida na vila mimosa e salvara Rosinha de um espancamento do cafetão Jesualdo, que alugava o quarto. Rosinha atrasara os alugueres para cobrir as despesas com sua filha que sofria de ataques epiléticos e morava com a avó em Rio das Pedras.
Maurício, o policial amado platonicamente por Rosinha, estando à paisana no domingo, resolveu, a convite de sua esposa, freqüentar o culto pentecostal de uma igreja nova que se instalara na comunidade. Foi quando presenciou um fato inusitado: O Pastor, depois de sua pregação, dirigindo-se a um estranho que acabara de entrar, pronunciou gritos e sussurros, clamando em alta voz:
“-Afasta satanás desse corpo! Sai demônio, em nome de Jesus! Eu te ordeno!”.
Em seguida o pastor grita novamente no ouvido e dá um leve toque na cabeça desse homem estranho que, com os braços para trás, voz rouca e palavras incompreensíveis, manifesto do diabo em seu corpo, atende à ordem do pastor e despenca ao chão. Porém, antes que caísse, Maurício que estava próximo presenciando aquela horrível cena, num ato reflexo e oportuno, segurou a cabeça do homem, que com a queda certamente bateria com ela sobre um ferro pontiagudo que se encontrava no batente do altar. Quando o homem retornou a si e sabendo do gesto heróico daquele que lhe salvara a vida, intentou dirigir-se a ele para agradecê-lo.
Mas eis o infortúnio desse infeliz momento. O homem que estava possesso e que fora salvo era Jesualdo, o cafetão, que reconhecera em Maurício o policial que outrora o prendera na vila mimosa. A gratidão sucumbiu à cólera, de cuja sanha Jesualdo não pode controlar. Ali mesmo, sacou da arma branca que trazia à algibeira e desferiu o contundente e profundo golpe fatal na ilharga de Maurício. O demônio, de todo, não havia sido exorcizado pelo pastor.
Rosinha, que tempos depois soube do fato, nada lhe restou a não ser manter-se fiel às pagas do cafetão, resignando-se à única alternativa: escrever poemas de saudades, para um amor impossível.
Brasília, 16.11.2008