SONHOS E SANGUE

BAM! O tiro do revólver zunia ao pé do ouvido enquanto ele corria carregando o malote, e pensava: “-Com esse dinheiro vou fugir com Zuíla e Zezinho, pro Ceará”.

BAM! No segundo tiro ele se esquivava correndo em zigue-zague, e sonhava: “A casa na praia, o sítio pra mamãe, a caminhoneta, a cirurgia do papai, um futuro pro Zezinho...”

BAM! “- A perna dói e não consigo correr, quanto sangue!,Aai!”. Rastros vermelhos na ruela da favela. Whack!Pow! A porta do barraco se abre, adentra e atravessa velozmente o casebre de paredes de papelão. Pula o muro, fere-se com os cacos de vidro em cima dele, chuta o vira-lata do vizinho. Quando adentra em seu barraco ainda consegue ver os olhos verdes de sua Zuíla. Sua última imagem.

BAM! Poff! José cai como um saco sobre o berço vazio e pobre do pequeno Zezinho que mamava no peito de Zuíla. O quarto tiro que saiu do revólver do vigilante da loteria foi certeiro e atravessou a cabeça do bandido que vinha realizando diversos assaltos na região.


                                                 Brasília, 16.11.2008
Roberto Dourado
Enviado por Roberto Dourado em 16/11/2008
Código do texto: T1286263
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.