Nas mãos de Lilibeth
A distração permitiu que Lilibeth escapasse do assédio. Por acaso, depois da entrevista, ela entrou na sala errada, onde um par de mesas e um sem-número de cadeiras faziam coro na solidão do triste ambiente.
Quando a jornalista perguntou se ela honraria o compromisso de mandar prender o presidente, a resposta natural era um "sim". Ao jurar obediência à Constituição, a Ministra da Justiça prometeu cumprir as leis do país. Infelizmente, isso implicaria, agora, em destituir o mandatário do Executivo, pego em casos comprovados de corrupção e assassinato.
Lá fora, longe das pilhas de material empoeirado, ouvia-se um burburinho interminável. Misturados aos profissionais da notícia, homens com óculos escuros e armas escondidas em coldres dissimulados, empenhavam-se, cada um com suas razões, em encontrar e dar o fim apropriado àquela que obrigou o Presidente a refugiar-se.
As verdades absolutas descritas nos códigos do poder deixaram, então, de existir para Lilibeth.
Quando todos se foram, protegida pela distância do tempo e das pessoas, a mulher sacou o dinheiro da bolsa e o contou.
"Daria para ir e não precisar voltar".
Foi-se. De fato, nunca mais se ouviu falar de Lilibeth, que jamais transguedira a lei, mas também não fora nascida para entregar-se ao martírio.