E pela manhã...

O alvorecer a surpreendeu ainda vestida como na noite anterior.

Saltos altos, vestido justo e despida de coragem para um mero banho.

O som do vazio enchia o ambiente.

A luz solar abria passagem através das cortinas de pano fino,

disposta a se intrometer,...e ela imóvel ali, olhando tudo sem nada ver.

Guardava os segredos da noite dentro da bolsa, pensando se haveria

um outro alguém também acordado como ela.

Nas suas mãos uma xícara de café sem adoçante, não bebia, apenas segurava, embora o gosto do líquido não fosse mais amargo que as lembranças paradas na sua garganta.

Definitivamente ela não sabia como enfrentar tal situação, visto que sempre fora uma pessoa equilibrada, disciplinada e dona dos controles,

remotos ou não.

Os números se contrastam diariamente com as letras e ela nem sempre

sabe como harmonizar essas diferenças.

Assim como as suas crenças.

Assim como a emoção opõe-se à razão, arranhando os sentimentos.

Assim como um poeta se lança em queda livre na emoção de um pequeno momento.

Pensativa deixou cair os cabelos nos ombros, pois desmanchando o penteado estaria dando o primeiro passo de uma esperada reação.

Deixou que o sono lhe afagasse o rosto numa carícia imperceptível,

e se entregou aos braços desse fiel escudeiro.

Tudo isso...pela manhã, e ela ainda teria o dia inteiro.