Ele e Ela


Ele, na poltrona se esticava,
suas pernas alongadas pareciam imensas ali,
os braços jogados sobre o peito que arfava,
e o olhar perdido num lugar qualquer da sala,
na verdade nada enxergava.
Ele estava cheio de ciúme.
Do vestido, do batom, do perfume...
Homem de muitos músculos, dono de um bronzeado elegante,
mastigava o amor acabado com seus dentes brancos,
e o pensamento distante.

Ela, imersa em sua fantasiosa imaginação, permanecia calada.
Ereta, em seu vestido de seda azul, com as pernas cruzadas,
as mãos sobre os joelhos,
perdia o seu olhar nas unhas cuidadosamente pintadas.
Ela já digerira o amor que ele ainda mascava.

A madrugada os encontrou nesse momento inquietante,
onde ele respirava o perfume suave com a mesma paixão,
e ela, serena, o olhava com a ternura de sempre,
reconhecendo nele, 
o perfil do homem que já fora dono do seu coração.
Então, quase que oficialmente, no silêncio foi dado o veredicto,
e foi assim, num triste sorriso, que ele admitiu que o fim era definitivo.